__As Leis de Jurupari (ou do Sol)
Essas Leis são sempre cultuadas e repassadas em rituais secretos na Yurupari-Oca, com música por flautas e máscaras. Esse ritual tem como objetivo principal a civilização dos povos e a busca de uma boa mulher pelos homens. Yurupari, após apresentar os instrumentos e explicar o nome de cada um deles, expõe as Leis:
É proibido ao Tuxaua de uma tribo, casado com mulher estéril, continuar vivendo com ela, sem tomar uma ou duas esposas, conforme o caso, até que tenha sucessores.
Qualquer um que não queira aceitar isso será substituído pelo mais forte entre os guerreiros da tribo.
Ninguém tente seduzir a mulher de outro, sob pena de morte, que recairá sobre o homem e a mulher.
Que nenhuma moça até o momento da puberdade mantenha o cabelo intacto, sob pena de não se casar até a idade dos cabelos brancos.
Quando uma mulher dá à luz, o marido deve jejuar por uma lua para permitir que a criança adquira a força que o pai perde.
Durante este jejum, o homem deve comer apenas saúba, caranguejos, beiju e pimenta.
Além das Leis, é explicado também que devem tomar parte nas festas de:
Quando a virgem tiver a primeira menstruação.
Quando tiver de comer da caça da floresta.
Quando tiver de comer carne de peixe grande.
Quando tiver de comer aves. Tudo isso, porém, depois que a mulher virgem tiver passado uma lua inteira esperando sua hora e alimentando-se com caranguejos, saúva e beiju, sem ver homens e nem com eles manter contato.
Quando for dado o dabucury (festa cerimonial de trocas) de fruta, peixe, caça ou outro, como penhor de boa amizade.
Quando terminar qualquer serviço cansativo, como derrubar árvore, construir casa, plantar a roça ou outro trabalho semelhante.
Todos os tocadores de Jurupari devem ter à mão uma capeia/adabis (um tipo de chicote) para se chicotearem um ao outro, para se lembrarem do segredo que todos devem guardar, além de prevenir a preguiça, promover uma mudança de pele; estimular o crescimento; e tornar os jovens corajosos, ferozes e agressivos.
Se usa nesses rituais a Máscara de Jurupari, sua representação em terra, confeccionada a partir de um tronco de madeira, fibra de cabelo humano, pelos de bicho-preguiça e penas de papagaio.
Em cada ritual se deve também restaurar os Instrumentos de Yurupari (flautas e trompetes), que possuem uma parte permanente e outra que a ser renovada. A parte permanente é um tubo feito da escura madeira do tronco da paxiúba e é mantida submersa em alguma curva de igarapé. A parte modificada nos trompetes é constituída por um cone composto por folha enroladas em espiral. Já a parte das flautas é formada por tubos de madeira mais flexível. O instrumento-chefe dos rituais é nomeado como Ualri, sendo seguido pelos outros chamados Yasmece-René, Bêdêbo, Tintabri , Mocino, Arandi, Dinari, Tity, Ilapay, Mingo, Peripinacuári, Buê e Canaroarro. Cada desses instrumentos tem uma explicação em relação a alguns animais e lendas específicas, representando assim a Voz de Yurupari.
Na lenda, em uma dos rituais secretos, as mulheres foram espionar novamente para aprenderem suas Leis. Quando Yurupari terminou, as transformou em pedras, inclusive sua própria mãe, chorando por ser obrigado a isso. Logo depois subiu aos céus, aparecendo em terra apenas ocasionalmente.
__A Morte de Yurupari
Entre as coisas lidas, foram essas duas as que mais me apareceram sobre a “Morte” de Yurupari:
1 - Após percorrer diversas tribos, realizar feitos extraordinários e ensinar os costumes dos povos, Yurupari revelou ao seu fiel discípulo Caryda um de seus propósitos na Terra além de ser o legislador do Sol: encontrar uma esposa perfeita para seu pai celestial.
A mulher ideal, segundo Sol, precisava possuir três qualidades essenciais: paciência infinita, capacidade de guardar segredos e ausência total de curiosidade. Numa cena carregada de simbolismo, Yurupari sentou-se à beira de um lago tranquilo para refletir. Quando a noite caiu e a luz da lua prateou a paisagem solitária, uma voz pura e misteriosa começou a cantar: era Carumá, a virgem dos Narunas, aquela que havia sido transformada em montanha após tocar o corpo, e o coração, de Yurupari. Carumá cantou durante toda a noite, acalentando o sono de Caryda. Ao amanhecer, quando o discípulo despertou, viu a montanha refletida nas águas imóveis do lago e fez sua escolha final: decidiu que Carumá seria a esposa do Sol. Cumprida sua missão, Yurupari desapareceu para sempre, enquanto Caryda, agora portando o Sol vivo em si, partiu rumo ao poente.
2 - O Sol, em sua sabedoria, decidiu realizar uma grande festa de caxiri e convidou Yurupari. Sabendo das verdadeiras intenções de seu pai – que planejava seu sacrifício –, aceitou seu destino com resignação. Antes da cerimônia, o Sol ordenou que trouxessem lenhas especiais para preparar o ritual. Yurupari compareceu à celebração e cumpriu todos os ritos com devoção: cantou os hinos sagrados, dançou em honra aos espíritos, rezou e abençoou os presentes, transmitiu seus últimos ensinamentos, e encerrou seu longo jejum ritualístico. Do lado de fora da casa de festas, os participantes prepararam uma grande fogueira sagrada. Quando chegou o momento decisivo, seu corpo foi consumido pelo fogo purificador, enquanto sua alma ascendeu às alturas, rumo ao reino celestial.
No local onde Yurupari foi imolado, surgiu uma paxiúba especial, árvore sagrada que se tornou símbolo de sua transformação e legado espiritual. É desta árvore que se é criada pelo Sol as Flautas Sagradas.
Embora tenha deixado o plano terreno, Yurupari permanece como uma entidade divina, dotada de poderes sobrenaturais. Ele frequentemente se manifesta aos seus devotos em sonhos, levando mensagens dos deuses. No entanto, também age como justiceiro, punindo aqueles que violam suas leis com visões aterradoras e pesadelos opressores, afligindo-os durante a noite, ou sendo atacados por seus soldados e visajes
__O Roubo das Flautas
O Sol escondeu as flautas rituais no rio e ordenou um filho seu buscá-las ao amanhecer. Porém as mulheres ouviram isso e chegaram primeiro ao local. Encontraram os instrumentos sagrados, aprenderam a tocá-los e os levaram consigo, desencadeando uma grande reviravolta, afinal quem as possuísse teriam o poder!
Os homens, indignados com a posse feminina das flautas, exigiram sua devolução. Enquanto isso, as mulheres viajavam pelo mundo, reunindo conhecimentos cerimoniais e estabelecendo sua própria Casa de Iniciação, onde passaram a conduzir os rituais.
A situação culminou em um confronto decisivo quando os homens descobriram o refúgio das mulheres. Após intensa disputa, os homens recuperaram as flautas à força e dispersaram as mulheres pelo mundo, restabelecendo seu controle exclusivo sobre os instrumentos sagrados e os rituais tradicionais.
Há quem diga que foi a partir desse conflito que foi dada a origem da classe das Ykamiabas. (E que certamente merecem um especial só delas, AGUARDEM!)
Continua na Parte 3…
Então até a próxima, pessoal!
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