Nó de cachorro, marapuama, gengibre, maca, unha de gato, guaraná, canela, juru juru juru JURUBEBÁAAAA. Mistura tudo com cachaça, vinho, mel, fecha com uma rolha e deixa uns dias enterrado. Tá pronta nossa querida GARRAFADA, tão conhecida, tão usada e às vezes tão desvalorizada. Mas afinal, vocês sabem como surgiu a garrafa aqui no Brasil? A gente te conta…
__ Jesuítas curandeiros?
A história da garrafada como conhecemos está atrelada aos jesuítas. Apesar de não serem médicos oficialmente, de formação superior e tudo mais (afinal, eram proibidos de cursar universidades), eles faziam de tudo um pouco, desde pintura, marcenaria, até o preparo de remédios e medicina básica.
Esse remédios, as panaceias (nome em homenagem à deusa grega da cura, Panaceia), ou também teriagas, já eram bem parecidos com o que temos hoje em dia: plantas, raízes, e até mesmo minerais e animais, embebidos em álcool no geral, até mesmo vinho. Apesar de se perder na história a origem certa dessas panacéias, foi Galeno de Pérgamo - médico particular do imperador romano Marco Aurélio - quem resgatou e popularizou o método.
Há quem diga que ele gostava mesmo é de saboreaaaar essas panaceias. Ora, pense bem, álcool/vinho saborizados com ervas, frutas, e afins? E sim, em suas anotações médicas, ele também falava sobre os sabores e combinações. Será que ele foi o pai dos sommeliers? Huum… BOM, VOLTANDO…
No início da invasão e colonização portuguesa, os jesuítas vieram para ajudar a catequizar (controlar) os "selvagens". Logo entenderam que a forma mais eficaz de fazer isso era substituir o poder e influência dos pajés por suas curas em nome de Jesus e do Espírito Santo. Tanto porque, a maior parte das doenças eram novas nas bandas de cá, e só os jesuítas sabiam como curá-las.
Durante esse momento, os jesuítas foram adquirindo o aprendizado sobre as medicinas de Pindorama e melhorando ainda mais suas panaceias. Apesar do saber incrível dos indígenas na natureza da cura, os jesuítas tinham uma vantagem: o conhecimento de como armazenar e preservar os remédios.
Com a popularidade crescente entre os colonos, os jesuítas foram aumentando seu poder político e financeiro. Construíram igrejas, colégios, enormes agrupamentos chamados de missões, onde de certa forma eram a lei, a salvação eterna e a cura de todos os males.
Em suas boticas, dentro dos colégios, fabricavam e armazenavam seus remédios em grandes tonéis, curtidos em álcool. A população ia até lá para comprar essas fórmulas curadoras, e as recebiam em o quê? Exato, em GARRAFAS! Daí em vez de triagas, panaceias, o povo começou a chamar esses remédios de GARRAFADAS.
__Garrafadas Populares
Como já visto na época das cruzadas, a ordem dos Jesuítas aqui também começou a ficar poderosa e rica, irritando bastante a Coroa portuguesa. Foi então que, a mando do Marquês de Pombal, os jesuítas levaram um pé na bunda de volta para Europa, isso em 1759. Mais do que aumentar sua influência, a Coroa queria o domínio sobre as vendas das garrafadas.
Só que os jesuítas, que nada eram burros, levaram consigo seus livros e cadernos
contendo todo o conhecimento das panaceias que adquiriram nesses quase 200 anos de, agora, Brasil. Com esse golpe, Pombal desistiu dessa ideia de fabricar as garrafadas e focou na exportação dos ingredientes para a confecção dos remédios lá na Europa pelos jesuítas.
O controle das boticas foi quase extinto, e o que sobrou do conhecimento caiu (ou voltou?) para os braços do populacho. Dessa forma, muitas receitas começaram a surgir, e o cruzo entre as sabedorias indígenas e a dos colonos pobres (muitas vezes bruxas, feiticeiros e a "ralé" expulsas da Europa) foi inevitável. Também se coloca nessa conta o conhecimento vindo com os africanos escravizados, que além de uma nova ideia de espiritualidade, vinha junto uma gama de novas plantas, raízes e sementes.
Daí pra frente você já consegue entender como foi - e é até hoje! A medicina foi sendo cada vez mais elitizada e escassa para o povo, que não via outra alternativa se não a medicina popular e espiritual, fortalecendo o poder na figura dos benzedeiros, garrafeiros, erveiros, parteiros, curandeiros e afins, quase sempre localizados na capelinha ou no terreiro mais próximo.
E você, tem alguma receita bacana de garrafada? Manda pra gente!
Pra embalar essa leitura, vamos de duas músicas que tem nossa querida GARRAFADA como tema:
__Referências:
Da Botica ao Boteco – Néli Pereira
A garrafada na medicina popular – Maria Thereza Lemos
Então até a próxima, pessoal!Site: www.pontosilustrados.com
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Adorei a história da garrafada !